quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Coletâneas de Geraldo Augusto de Carvalho

Jornal “A COLUNA” – Campo Belo-MG – 24/04/1937 –

Viriato Vidal escreveu:

Mercúrio e o Céu
O senso prático nos negócios é, ninguém o discute, muitíssimo louvável, tanto mais que a sua torna a vitória bastante problemática para quem se arrisca, em nossa época de concorrência franca, a quaisquer especulações financeiras. Porém, querer levar o espírito mercantil até o terreno moral chega a ser um abuso inadjectivável, uma cavação repugnante...

A virtude sem compostura, sem recato, sem a atitude que distingue um grande gênio e a inteligência vulgar, isto é, certa dose de desprezo pela opinião alheia, não pode ser verdadeiramente classificada com o rótulo, pomposo e dourado de virtude legítima, pois o que se mostra é aquilo que causa orgulho e envaidece o seu detentor, e não é de compreender-se a união da virtude com a ostentação, do mérito com a necessidade de louvores, que são como a paga do sacrifício de ser-se virtuoso e do esforço de parecer meritório ! Praticar a virtude pela virtude mesma, é dizer, ser merecedor sem o saber, é coisa que não se aprende: só há assim os que não praticam a virtude para merecer recompensa, nem mesmo a celestial, os que agem justamente por lhes ser imanente na razão o sentimento de justiça, os que são bons porque são bons e não porque o devem ser.

Fazer o bem pelo amor do bem! Onde o mérito da boa ação, se praticada para ganhar o reino dos céus? Não se pode ver nisso coisa muito diferente do egoísmo de quem dá esmolas, não porque sinta piedade pelo mísero sofredor, nem que a isso o impila o instinto de solidariedade humana, mas, pura e simplesmente, por que... “quem dá aos pobres empresta a Deus” !... É o último degrau da escalada do utilitarismo o por a juros de vida eterna a insignificância dos bens materiais...

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