terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Coletâneas de Geraldo Augusto de Carvalho

Revista NIRVANA, Campinas – Nº 42 – Maio de 1938
     CARTA
   Queridinha:
   Tão longe de mim, estás contudo presente em meu pensamento. Sinto-te a meu lado, ouço-te, aspiro a fragrância suave dos teus cabelos louros, o perfume inebriante do teu corpo adolescente. Evoco tua figurinha graciosa, e “écran” da memória se me projeta, em seus contornos todos, o teu perfil ligeiramente esguio, com suas linhas harmoniosas e puras.
   Aliás, desde que a tua imagem real deixou de refletir na retina dos meus órgãos visuais, continuo a ver-te ainda, tão nitidamente como se comigo estivesses. Fenômeno, talvez, do chamado “desdobramento da personalidade”. Não o sei; o caso é que  te tenho junto a mim. Fantasia, talvez, do espírito obcecado pela saudade... Sim! Por estranho que te pareça, sinto saudade de ti!...
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   Leio as palavras que, com a tua letrinha nervosa, deixaste como lembrança dos momentos fugidios de felicidade que me deste. Que singular encanto e motivo soubeste dar aquela frase simples! Só mesmo a sinceridade tem essa magia sutilíssima de comunicar tanta vida e calor a uma meia dúzia de termos banais e corriqueiros.
   Poderás deixar de querer-me, e eu a ti: tudo isso é humano, e mesmo razoável: resta-me, porém, uma doce certeza: não mentias ao escrever o teu afeto, como eu não minto ao dizer-te as minhas saudades...
   É por isso que eu não te suplico me sejas sempre fiel, que me queiras eternamente. Não. Apenas e simplesmente, peço-te continues a ser leal, conservando para sempre a deliciosa e ingênua sinceridade que me fez gostar tanto de ti...
                                                                                         Viriato VIDAL

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